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A palavra pós verdade (post–truth) foi introduzida no dicionário de Oxford em 2016 – fruto da escolha anual realizada pela
universidade –, definindo–a como um substantivo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos
influência em moldar a opinião pública que apelos à emoção e a crenças pessoais. Parece que a eleição seguiu a linha do ano
anterior, em que a palavra escolhida foi um emoji, ou seja, uma daquelas carinhas amarelas, no caso, que chora de rir.
Essa decisão, embora de aparência inofensiva, traz necessariamente sua repercussão filosófico–polÃtica, que, por sua vez, termina
por influenciar a sociedade como um todo, principalmente em um mundo globalizado. Temos presenciado em nosso paÃs como a
mÃdia infla os fatos de forma emocional já que, segundo a referida universidade, a verdade está perdendo importância no debate
polÃtico, o que, se analisado com profundidade, leva–nos necessariamente à uma escravidão seja pela manipulação ou pela
ignorância, inimiga da verdadeira liberdade.
Nesse sentido, observando o nÃvel das campanhas polÃticas que temos acompanhado perplexos e exaustos, fica patente o quanto
fomos radicalmente atingidos pela “palavrinhaâ€, quer a partir de mentiras intencionais e institucionais – as denominadas “fake
newsâ€, ou através de múltiplos ataques emocionais, ou mesmo, sob a forma de slogans de efeito, embora vazios de conteúdo
real.
Bem resumiu a ideia, o ministro Fux, no recente Meeting 2018, afirmando que o que vem depois da verdade é a mentira... E, de
fato, é preciso resistir para não construir – no caso reconstruir – a sociedade brasileira sob areia movediça.
Por outro lado, como filosoficamente a mentira carece de entidade – é o “não ser†–, a pós verdade edifica no negativo. É
deficitária por excelência, e ocupa–se mais de atacar e de se justificar, do que propor a partir da realidade, composta sempre de
luzes e sombras, exigindo, por sua vez, autocrÃtica e reconhecimento dos próprios erros para poder superá–los. Quando falta
veracidade, fere–se constantemente o princÃpio da não contradição aristotélico, passando a “ser e não ser ao mesmo tempoâ€,
conforme o interesse em questão, sendo tamanha a camuflagem a partir da “mentira existencialâ€, que é difÃcil não acreditar que
se crê piamente na própria mentira, tal qual a poesia de Affonso Romano de Sant’ Anna: “Mentiram–me ontem e hoje mentem
novamente. Mentem de corpo e alma, completamente. E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente.
Mentem sobretudo, impunemente (...). E de tanto mentir tão bravamente, constroem um paÃs de mentira – diariamenteâ€.
Nesta reta final a caminho das urnas, ansiosos por um resultado justo, vale a pena em primeiro lugar, desejar esgotar a verdade
do passado evidente e exigir propostas futuras, não idÃlicas, retóricas e demagógicas, mas verazes e reais.
E para tal, lembrar ainda que a honestidade e a coerência enraÃzam–se na verdade pessoal e são requisitos essenciais para gerar
confiança e segurança a partir da aliança e do compromisso que fundamentam a vida na polis.
Confiantes, esperamos, de verdade, que não ocorra o que Hannah Arendt afirmou sobre as massas totalitaristas: “ser feito para
repetir uma mentira óbvia deixa claro que você é impotenteâ€. Definitivamente não! Para frente Brasil, rumo a um verdadeiro
Estado Democrático de Direito! |